No nosso prédio
mora o vizinho
Bukachkine,
que usa cuecas cor
de mata-borrão.
Mas sobre ele —
como balões no espaço —
flutuam Antimundos!
Há neles um mágico,
pior, há um diabo
que governa o
mundo:
Antibukachkine, o
académico
que dá beliscões às
Lollobrigidas!
Mas o Antibukachkine
sonha
visões cor de
mata-borrão.
Vivam os
Antimundos!
Maravilhas — no
meio do que não presta!
Sem estupidez não
há inteligência,
não há oásis sem
haver Karakum!
Não há mulheres —
existem anti-homens.
E as antimáquinas
praguejam nas florestas.
A terra produz sal.
A terra produz estrume.
E morre o falcão
sem a serpente.
Amo os meus
críticos.
No pescoço nu e
perfumado
de um deles
brilha uma
anticabeça!...
... Gosto de dormir
com as janelas abertas
e ver brilhar,
algures, uma estrela cadente
e os arranha-céus —
suspensos
da barriga do
espaço
como estalactites.
E por baixo de mim
cabeça ao contrário
espetando um garfo
na barriga do mundo,
vives tu, doce
borboleta indiferente,
meu pequeno
antimundo!
Porque será que, a
meio da noite,
se encontram os
antimundos?
Porque se sentam
eles, aos pares,
a ver televisão?
Nem duas frases
trocam entre si.
Sentados e já sem
etiquetas
(e por isso irão
sofrer mais tarde!)
com as orelhas em
fogo...
como borboletas.
... Um orador meu
conhecido
dizia-me ontem:
«Antimundos ?
Ninharias!»
Durmo e viro-me na
cama,
pensando,
sonolento,
na razão da
inteligência científica...
O meu gato é como
um receptor
e capta o mundo com
os seus olhos verdes.
1961
Voznessenski em Antimundos
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