terça-feira, 2 de março de 2021

ANTIMUNDOS


No nosso prédio

mora o vizinho Bukachkine,

que usa cuecas cor de mata-borrão.

Mas sobre ele — como balões no espaço —

flutuam Antimundos!

 

Há neles um mágico, pior, há um diabo

que governa o mundo:

Antibukachkine, o académico

que dá beliscões às Lollobrigidas!

 

Mas o Antibukachkine sonha

visões cor de mata-borrão.

 

Vivam os Antimundos!

Maravilhas — no meio do que não presta!

Sem estupidez não há inteligência,

não há oásis sem haver Karakum!

 

Não há mulheres —

    existem anti-homens.

 

E as antimáquinas praguejam nas florestas.

A terra produz sal. A terra produz estrume.

E morre o falcão sem a serpente.

 

Amo os meus críticos.

No pescoço nu e perfumado

de um deles

brilha uma anticabeça!...

 

... Gosto de dormir com as janelas abertas

e ver brilhar, algures, uma estrela cadente

e os arranha-céus — suspensos

da barriga do espaço

como estalactites.

 

E por baixo de mim

    cabeça ao contrário

espetando um garfo na barriga do mundo,

vives tu, doce borboleta indiferente,

meu pequeno antimundo!

 

Porque será que, a meio da noite,

se encontram os antimundos?

 

Porque se sentam eles, aos pares,

a ver televisão?

 

Nem duas frases

trocam entre si.

 

Sentados e já sem etiquetas

(e por isso irão sofrer mais tarde!)

com as orelhas em fogo...

como borboletas.

 

... Um orador meu conhecido

dizia-me ontem:

«Antimundos ? Ninharias!»

 

Durmo e viro-me na cama,

pensando, sonolento,

na razão da inteligência científica...

 

O meu gato é como um receptor

e capta o mundo com os seus olhos verdes.

 

1961

Voznessenski em Antimundos

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