Devoção
Patti Smith
Tradução: Helder Moura Pinheiro
Capa: Rui Rodrigues
Quetzal Editores, Lisboa, Abril de 2019
As coisas avançam
devagar. Tenho no bolso a ponta de um lápis.
Qual o desafio?
Escrever alguma coisa que possa comunicar a vários níveis, como numa parábola,
isenta do estigma da astúcia.
Qual o sonho?
Escrever alguma coisa sublime, que seja melhor do que eu e que justifique as
minhas provações e os meus erros. Oferecer uma prova, através de uma
determinada maneira de usar as palavras. De que Deus existe.
Porque escrevo? O
meu dedo, como um estilete, desenha no ar um ponto de interrogação. Uma
obsessão familiar de que me lembro desde criança quando me retirava das
brincadeiras e do convívio com os amigos e me afastava das eventuais delícias
do amor para ficar cercada por palavras e dominada por uma pulsação que me era
externa.
Porque escrevemos?,
pergunta em uníssono o grande coro de quem escreve.
Porque não nos
podemos limitar a viver.
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