O Barão
Luís de Sttau
Monteiro
Peça de Teatro
baseada na novela O Barão de Branquinho da Fonseca
Edições Ática,
Lisboa, Abril de 1964
Não gosto de viajar. Mas sou Inspector das escolas de instrução primária
e tenho por obrigação de correr constantemente todo o país. Ando no caminho da
bela aventura, da sensação nova e feliz, como um cavaleiro andante. Na verdade
lembro-me de alguns momentos agradáveis, de que tenho saudade, e espero ainda
encontrar outros que me deixem novas saudades. É uma instabilidade de eterna
juventude, com perspectivas e horizontes sempre novos… Mas não gosto de viajar.
Talvez só por ser uma obrigação e as obrigações não darem prazer. Entusiasmo-me
com a beleza das paisagens, que valem como pessoas, e tive já uma grande
curiosidade pelos tipos rácicos, pelos costumes e pela diferença de mentalidade
do povo de região para região. Num país tão pequeno, é estranhável tal
diversidade. Porém não sou etnógrafo, nem folclorista, nem estudioso de nenhum
desses aspectos e logo me desinteresso. Seja pelo que for, não gosto de viajar.
Já pensei em pedir a dimensão. Mas é difícil arranjar outro emprego equivalente
a este, nos vencimentos. Ganho dois mil escudos e tenho passe nos comboios,
além das ajudas de custo. Como vivo sozinho, é suficiente para as minhas
necessidades.
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