O poeta e editor Manuel
Alberto Valente, conta em crónica no
Expresso, que estando em Coimbra, nos anos 60, a estudar Direito
Administrativo, sem grandes resultados, ainda a colaborar na revista Vértice, resolveu transferir-se para
Lisboa, dando conhecimento da decisão ao director da revista, o poeta Joaquim
Namorado.
- Vais para Lisboa, porquê?
A resposta saiu-lhe
típica do fim da adolescência:
- Lisboa é uma cidade grande. E, além disso, lá podem conhecer-se os
escritores.
O poeta deu-lhe um
valente calduço:
«- Os escritores são para se ler, e não para se conhecer!
Esta frase tem-me acompanhado toda a vida. E se é verdade que a minha
atividade editorial desmentiu as mais das vezes, também é verdade que algumas
vezes a confirmou.
O importante é a obra. Por trás dela, esconde-se muitas vezes um ser
humano que é preferível não conhecer.
Mas nessa época eu ainda não o sabia.»
Acabada a leitura da crónica, lembrando escritores escritores que, para além da obra, é preferível não conhecer, lembrei-me de António Lobo Antunes.
Legenda: capa da revista Vértice nº 248/249, Maio/Junho de 1964, com um desenho de Malangatana
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