segunda-feira, 29 de março de 2021

OLHAR AS CAPAS


Gente de Palmo e Meio

Augusto Gil

Guimarães Editores, Lisboa 1913

- Gosta do mar? preguntou-me

Disse-lhe que não… E justifiquei: A beleza só é perfeita quando equilibrada e serena. Ora o mar é a intranquilidade eterna. Demais, a grandiosidade deixa de ter beleleza se não fôr variada. E o mar é monótono: uma onda, outra onda, e outra, e outra ainda… Lembra-me os dramas do velho Hugo: sempre, sempre sempre alexandrinos…

- Para que é falso? ralhou ela com um gostozinho de amuada .

E depois, com a literária fluência de quem repetia o que muitas vezes pensára, ou até de quem reproduzia alguma página do seu diário íntimo, acrescentou:

- Deus fez com a água a epopeia da humildade.

- Da humildade?... interroguei surpreso.

- Sim , humildade. Encha com ela uma taça de oiro e tomará a forma da taça. Deite-a depois num vaso tosco de barro humilde e vê-la há humildemente aconchegar-se às linhas rudes dêsse vaso ingénuo.

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