Gente de Palmo e Meio
Augusto Gil
Guimarães Editores, Lisboa 1913
- Gosta do mar? preguntou-me
Disse-lhe que não… E justifiquei: A beleza só é
perfeita quando equilibrada e serena. Ora o mar é a intranquilidade eterna.
Demais, a grandiosidade deixa de ter beleleza se não fôr variada. E o mar é
monótono: uma onda, outra onda, e outra, e outra ainda… Lembra-me os dramas do
velho Hugo: sempre, sempre sempre alexandrinos…
- Para que é falso? ralhou ela com um gostozinho de
amuada .
E depois, com a literária fluência de quem repetia o
que muitas vezes pensára, ou até de quem reproduzia alguma página do seu diário
íntimo, acrescentou:
- Deus fez com a água a epopeia da humildade.
- Da humildade?... interroguei surpreso.
- Sim , humildade. Encha com ela uma taça de oiro e
tomará a forma da taça. Deite-a depois num vaso tosco de barro humilde e vê-la
há humildemente aconchegar-se às linhas rudes dêsse vaso ingénuo.
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