Hoje é o Dia do Pai.
Sempre me disseram que esta coisa dos Dias, seja do que for: Pai, Mãe, Mulher, etc., são um
negócio. Contudo, as escolas, principalmente nos jardins de infância, cultivam
a ideia de os miúdos fazerem desenhos em cartolina, em azulejos, para levar aos
pais. Essa parte ainda aceitei, depois, já crescidinhos, tratei de dizer, aos
meus filhos, que não contassem comigo para esse folclore.
Importa agora
dizer-vos, que o meu pai, por motivos que nunca descortinei claramente, tinha
pela cultura alemã uma profunda admiração: o Natal, música clássica, livros
(gostava de Goethe, Karl Marx, adorava Rainer Maria Rilke e lamentava que Rilke
tivesse nascido em Praga e não numa qualquer cidade alemã) e tudo acabava com ele a dizer que não havia nada no mundo como
os electrodomésticos de marcas alemãs, de carros não falava porque nunca teve
carta de condução.
Eu era miúdo, teria
uns 8 anos, lembro-me de ele ter chegado a casa com um disco de 78rpm do trompetista
Eddie Calvert a tocar uma velha canção «Oh,
Mein Papa». Ele adorava esta canção e quando fazia anos, gostava de a por a
tocar. O disco partiu-se e alguns anos antes de ele nos deixar, consegui encontrar
na Feira da Ladra, um EP do Eddie Calvert. O disco terá pertencido a alguém
chamado Ilda que lhe terá sido oferecido em 21 de Fevereiro de 1964, mas as
coisas não terão corrido bem, vendeu o disco e riscou a dedicatória.
Hoje, lembrei-me do
meu pai, o melhor ouvinte e conversador que tive, e chegaram até mim as noites
de Verão em Almoçageme, numa velha casa alugada, sentados no alpendre a ouvir o
silêncio, ao longe a ronca do Cabo da Roca, ele a beber o seu whisky, eu a beber
o meu gin-tonic.
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