sexta-feira, 19 de março de 2021

OS CLÁSSICOS DO MEU PAI


Hoje é o Dia do Pai.

Sempre me disseram que esta coisa dos Dias, seja do que for: Pai, Mãe, Mulher, etc., são um negócio. Contudo, as escolas, principalmente nos jardins de infância, cultivam a ideia de os miúdos fazerem desenhos em cartolina, em azulejos, para levar aos pais. Essa parte ainda aceitei, depois, já crescidinhos, tratei de dizer, aos meus filhos, que não contassem comigo para esse folclore.

Importa agora dizer-vos, que o meu pai, por motivos que nunca descortinei claramente, tinha pela cultura alemã uma profunda admiração: o Natal, música clássica, livros (gostava de Goethe, Karl Marx, adorava Rainer Maria Rilke e lamentava que Rilke tivesse nascido em Praga e não numa qualquer cidade alemã) e tudo acabava com  ele a dizer que não havia nada no mundo como os electrodomésticos de marcas alemãs, de carros não falava porque nunca teve carta de condução.


Eu era miúdo, teria uns 8 anos, lembro-me de ele ter chegado a casa com um disco de 78rpm do trompetista Eddie Calvert a tocar uma velha canção «Oh, Mein Papa». Ele adorava esta canção e quando fazia anos, gostava de a por a tocar. O disco partiu-se e alguns anos antes de ele nos deixar, consegui encontrar na Feira da Ladra, um EP do Eddie Calvert. O disco terá pertencido a alguém chamado Ilda que lhe terá sido oferecido em 21 de Fevereiro de 1964, mas as coisas não terão corrido bem, vendeu o disco e riscou a dedicatória.

Hoje, lembrei-me do meu pai, o melhor ouvinte e conversador que tive, e chegaram até mim as noites de Verão em Almoçageme, numa velha casa alugada, sentados no alpendre a ouvir o silêncio, ao longe a ronca do Cabo da Roca, ele a beber o seu whisky, eu a beber o meu gin-tonic.


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