quarta-feira, 31 de março de 2021

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...


Em Novembro de 1975, o Conselho de Administração da Lisnave convocava uma Assembleia Geral Extraordinária.

Após 33 anos de actividade, 5.200 navios reparados, a Lisnave, acontecia o último do ano de 2000, deixou de existir, o fim do que foi considerado um dos melhores estaleiros a nível mundial, a maior doca com capacidade para navios até um milhão de toneladas. Lembrança ainda do ministro Mota Pinto-a-meias-com-Mário Soares-bloco-central, a lamentar-se aos jornalistas: «Não é mais possível que os operários da Lisnave andem à pesca, porque não têm nada que fazer». 

Também um filme, Segundas ao Sol, de Fernando Léon Aranoa, que toma como ponto de partida um despedimento colectivo ocorrido nos estaleiros de Gijón no principio da década de 90 e conta a história de um grupo de desempregados desse estaleiro naval, que fechou as portas porque os donos procuraram, algures num qualquer paraíso de mão-de-obra barata do Pacifico, quem lhe reparasse e construísse os barcos a menor preço, um filme sobre a amizade, a solidariedade sem falsos sentimentalismos, trabalhadores desempregados ligados entre si, como diz um dos personagens, «como siameses: um cai, o outro ri-se, antes de perceber que caíu também», que retrata a amargura muda, o desespero, quando a vida se torna assim: diariamente, de casa para a tasca, da tasca para casa, pelo meio segundas ao sol para sonhar sonhos, absurdos que sejam.

«A questão não está se nós acreditamos em Deus. A questão é se Deus acredita em nós. Em mim, estou certo que Ele não acredita.», diz um dos personagens.

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