Da necessidade de
pegar num qualquer número da Vértice,
para ilustração de um texto do Cais, peguei num em que existem algumas páginas dedicadas
a Manuel de Oliveira.
Manuel de Oliveira é
como está em toda a evocação da Vértice,
se teclar Manuel de Oliveira a Wikipédia
pergunta-me: «Será que quis dizer Manoel
de Oliveira?»
Como não sei as
razões da passagem de Manuel para Manoel, por hoje, respeito como vem na
revista.
Num texto intitulado O Cinema e o Capital, publicado na
revista Movimento de Outubro de 1933,
Oliveira começa por dizer:
«O cinema é, de todas as artes, a mais sujeita ao capitalismo, pelo
custo fabuloso do seu material e meios técnicos, e ainda pela dependência
esmagadora dum público mal orientado por uma forte propaganda que cuida
demasiado de estrelas e astros, e nada de ideias e processos artístico»
E termina assim:
«É portanto necessário acabar com o cinema-negócio. É necessário
arrancar a indústria do cinema das garras nefastas do capitalismo. É necessário
que o cinema seja apenas isto: um órgão de criação artística, e de acção
educativa e social.»
Na Vértice também é
publicada uma entrevista que Lauro António fez a Oliveira e publicada no Jornal de Letras e Artes de Fevereiro de
1964.
Pegue-se na parte
final da entrevista:
«Perguntámos a Manuel de Oliveira quais os seus projectos imediatos.
Respondeu-nos que o mais amadurecido era a adaptação de A Velha Casa, romance
de José Régio.
- O projecto foi submetido à provação do Fundo de Cinema Nacional?
- Sim. Foi. E até tinha razões para esperar que fosse atendido. A
verdade é que não fui, mais vez.
- E então desiste?
- Desistir, não desisto. Fico na expectativa…
- E se voltar a ser negado?
- Procurarei outras soluções…
Perderam-se na poeira
dos tempos as expectativas de Manoel
de Oliveira, também acabou por não encontrar outras soluções que o terão levado simplesmente a desistir do
projecto.
Mas segundo João
Bénard da Costa (2º volume de Crónicas:
Imagens Proféticas e Outras):
Régio foi influência maior obra de Oliveira, Agustina gosta de o
recordar «menino entre os doutores». Os temas da obra de Régio ecoam na de Oliveira,
e os mestres de Régio foram, através dele, os mestres de Oliveira»
Agustina Bessa Luís
teve uma declarada fascinação por Régio e a sua obra, que a levaram a escrever (Caderno de Significados) que Régio «é um
dos nossos autores pior interpretados. Mesmo os seus discípulos o interpretam mal,
porque especulam sobre a pluralidade dos seus meios e dos seus fins, mas não
compreendem, na verdade, o homem vitorioso.
Muitas vezes eu olhava para José Régio, à minha maneira desprotegida e
vazia de conceitos, e surpreendia nele uma ambição fabulosa; como se não
houvesse linguagem para ele exprimir o que sabia, como se não houvesse sequer
um mapa do corpo humano que ele conhecia».
José Régio
considerava A Velha Casa (cinco
romances publicados entre 1945 e 1966) o melhor da sua obra. Sempre manifestou
a ideia da impossibilidade de a transcrever para o cinema, Manuel de Oliveira
não ignorava essas dificuldades, mas ainda
chegou a trabalhar com Régio na adaptação das primeiras cenas que serviram de
base para o trabalho a apresentar ao Fundo de Cinema, para a obtenção de um
subsídio, que foi recusado.
O oportunismo e a
mediocridade, principalmente em tempos de ditadura, andaram sempre de mãos dadas,
fosse para que arte fosse.
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