quarta-feira, 10 de março de 2021

NADA A VER COM O DESTINO


Será contraditório defender que é a necessidade de distracção que está na base da popularidade do romance policial e que, simultaneamente, essa necessidade envolve e oculta uma profunda ansiedade? Com uma intuição certeira, Walter Benjamin observou um dia que um viajante que lê um romance policial num comboio suprime temporariamente a sua ansiedade, substituindo-a por outra. Os viajantes receiam as incertezas do trajecto, receiam não atingir o seu destino e o que poderá acontecer-lhes uma vez lá chegados, mas suprimem e esquecem temporariamente esses medos mergulhando noutros – inocentes, estes – suscitados por crimes e criminosos que, como muito bem sabem, não têm nada a ver com o seu próprio destino.

Ernest Mandel em Cadáveres Esquisitos – Uma História Social do Romance Policial, citado por Frenesi Loja 

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