quarta-feira, 10 de março de 2021

RECADO PARA A AMIGA DISTANTE


Nem palavras. Nem medos. Nem serenas 

pálpebras descidas sobre o sonho. 

Apenas a tua mão na minha. E o rumor 

da música do cego, àquela esquina.

 

Amo-te. E depois? A vida escorre 

pelas paredes da prisão-país. Morrem poetas. 

Máquinas rodam no silêncio. Esperas 

acontecem, de súbito, violentas.

 

Como menino a quem foi dado o nome 

sem mistério de seus pais, 

olho sobre o teu corpo a ondulação da música 

e anseio as tuas coxas reveladas.

 

Daniel Filipe

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