Por que razão nos sentimos impelidos a escrever? Para procurarmos o
isolamento no interior de um casulo nosso, absorvidos numa solidão que é alheia
às necessidades dos outros. Virginia Wolf trabalhava num quarto só seu. Proust,
por trás de janelas sempre cerradas. Marguerite Duras, numa casa habitada pelo
silêncio. Dylan Thomas, na sua cabana modesta. Todos em busca de um vazio para
preencher com palavras. Palavras que irão penetrar território virgem, inventar
combinações entre si jamais imaginadas, estender as suas possibilidades
infinitas. Palavras que criaram Lolita, O Amante, Nossa Senhora das Flores.
Há um grande número de cadernos em que os escritores falhados, de euforias ocas, de um caminhar feito incessantemente de avanços e recuos. É imperioso escrever, mas é também impossível não ficar envolto numa infinidade de batalhas, como se estivéssemos a domar um potro teimoso. É imperioso escrever, mas não sem um esforço persistente e um certo sacrifício: para abrir direcções no futuro, para revisitar a infância e para equilibrar os terríveis e tortuosos meandros da imaginação numa linguagem que desperte a inteligência dos melhores leitores.
Patti Smith em Devoção
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