Não sou daqui. Mamei em peitos
oceânicos
minha mãe era ninfa meu pai chuva de
lava
mestiça de onda e de enxofres
vulcânicos
sou de mim mesma pomba húmida e brava
de mim mesma e de vós, ó Capitães
trigueiros
arbeados pelo sol penteados pela
bruma!
que extraístes do ar dessa coisa
nenhuma
a
génese a pluma do meu país natal.
Não sou daqui das praias da tristeza
do insone jardim dos glaciares
levai minha nudez minha beleza
e colocai-a à sombra dos palmares.
Não sou daqui. A minha pátria não é
esta
bússola quebrada dos impulsos
sou rápida sou solta talvez nuvem
nuvens minhas irmãs que me argolais os
pulsos
tomai os meus cabelos levai-os para a
floresta
É lá que o meu amigo pastor de estrelas
pasce
o marulho das folhas com pássaros nas vozes
o sol adormecido nos braços da giesta
a manhã rarefeita na corrida do alce
o luar orbitado no salto da gazela
os animais velozes do sítio onde se nasce
Natália Correia em As Maçãs de Orestes
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