Vinha
do outro lado do tempo do inverno seguinte
um ruído rápido e
ao mesmo tempo, assim parecia,
anfíbio
como alguém em
trânsito para o seu mar
ao sair do emprego,
e o instrumento
sol-terra-lua-homem-mulher-puta-que-vos-pariu-deus-vos-abencoe-
-etecetera-amén-
a buzinar-lhe aos
ouvidos
e de vertiginosa a
roda um instrumento a mais
em potência de
tortura passou imediatamente a ser
útil vertiginosa
indispensável
porque é uma roda e
só por isso
porque tudo segue o
mesmo percurso e no mesmo tempo
e na mesma roda de
espaço que nós em tudo
e só por isso
quando a caixa
toráxica passa a ser de metal
por assimilação
e de plástico por
fora e roda no corpo
e só no sexo o
circuito é uma onda fundente
liquidamentamante
lemos o
capítulo do sangue
quando em transe se
descarrega como a campainha
de que as palavras
são o toque e os silêncios
o clarão da música.
Assim se fala,
ouvem-se telefones, como possuídos
por outrém
de que as palavras
se chamassem fala
e o terror ventriloquia.
Luiza Neto Jorge
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