30 de Abril de 1974
Amanhã será o primeiro 1º de Maio em liberdade.
Durante a ditadura, o 1º de Maio era um dia que trabalhadores e estudantes estavam impedidos de comemorar.
Mas com coragem e determinação, aqui e ali, sempre encontraram forma de o assinalar, se bem que sujeitos a brutal repressão: pedras e palavras de ordem contra bastões, espingardas, carros-de-combate-lanças-tinta-azul.
A mudança ia acontecendo, lenta, lenta, lenta, mas éramos tão poucos.
E onde estava aquele gente que, no amanhã de há 47 anos, encherá as ruas transformando-as num imenso oceano.
Os jornais de 30 de Abril de 1974, nas suas primeiras páginas, apelavam à serenidade do povo português nas comemorações do 1º de Maio, Dia do Trabalhador.
Na 1ª página do República podia ler-se: Só a
disciplina dos Homens Livres destrói a “disciplina” do medo!». Nas
páginas centrais uma outra frase:
«A disciplina é a arma do Povo contra a opressão.»
Na 1ª página do Diário Popular: «O 1º de Maio é teu: conquistaste-o. Não deixes que possíveis provocadores alterem o dia que será uma festa de todos!»
O Diário de Lisboa lembrava que, no 1º de Maio, as padarias e os depósitos de pão estavam encerrados: e colocava em título:
COMPRE HOJE O PÃO DE AMANHÃ
Diversas empresas faziam publicar anúncios de que iriam estar
encerradas no 1º de Maio.
2.
A Junta de Salvação Nacional veio publicamente salientar que os trabalhadores dos CTT eram alheios a quaisquer diligências, actividades ou intervenção na violação da correspondência. Essa violação era feita directamente pela PIDE-DGS, que requisitava aos CTT, a correspondência de suspeitos de actividades contra a ditadura.
3.
Concretamente em Lisboa, populares continuam a perseguir os pides.
Aparecem os primeiros desmentidos de quem estava a ser acusado de pertencer à Legião, à PIDE/DGS, ou tinham sido informadores da polícia política.
Alguns eram acusados, por vizinhos, conhecidos, como mera vingança pessoal.
Começavam, por isso, os desmentidos.
Este podia ler-se em A Capital:
«O antigo “boxeur” Licinio Sena deslocou-se à nossa redacção, acompanhado do capitão Nuno Santos Silva do Movimento das Forças Armadas, do seu chefe no Tribunal de Contas, onde trabalha, e do seu filho, para nos declarar que não era agente da Pide.»
Outros optavam pela publicação, como publicidade paga, de anúncios deste teor:
Sobre este tipo de incidentes, o Diário de Notícias, publicava,
na 3ª página, uma local que titulou como: Enganos lamentáveis:
No clima de justa euforia em que actualmente se vive na nossa cidade,
um dos principais alvos da população – o que, por vezes, gera alguma violência
– tem sido a descoberta de elementos da extinta DGS e ainda não detidos.
Mas, se em muitos casos, se verificou que os indivíduos apanhados eram realmente daquela corporação policial, noutros ocorreram enganos que poderiam tornar-se lamentáveis, se não fosse a intervenção das forças militares.»
Sem comentários:
Enviar um comentário