Uma vez exactamente
em 1967, em pleno fascismo, à maneira
dos «jornais de parede
lembrei-me de escrever «poesias de pa-
rede», para colar no quarto do
meu filho Alexandre.
Alexandre: faz como eu.
Fecha-te nestas quatro paredes,
mas sonha que andas lá por fora
(na terra sem céu)
a matar as sedes
da gente que chora.
O moleiro mói melhor a farinha para o pão
no isolamento do moinho,
mas com a condição
de ouvir bater no coração
o do vizinho.
Acredita, Alexandre, que a solidão
é boa para não se estar sozinho
José Gomes Ferreira em APoesia Continua
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