4 de Junho de
1993
Na Feira aparece uma pessoa a comprar todos os
meus livros. Põe-nos todos diante de mim para que os autografe, os grossos e os
finos, os caros e os baratos, trinta e tal contos de papel, conforme vim a
saber depois, e o que me desconcerta é que o homem não é um convertido recente
ao saramaguismo, um adepto de fresca data, um neófito disposto às mais loucas
ousadias, pelo contrário, falo do que de mim leu com à-vontade e discernimento.
Resolvo-me a perguntar-lhe a razão da ruinosa compra, e ele responde simplesmente,
com um sorriso onde aflorou uma rápida amargura: «Tinha-os todos, mas ficaram
na outra casa.» Compreendi. E depois de ele se ir embora, ajoujado sob a carga,
pus-me a pensar na importância dos divórcios na multiplicação das bibliotecas…
José Saramago em Cadernos de Lanzarote, Volume I
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