Gretta
Erskine Caldwell
Tradução: João Belchior Viegas
Capa: José Antunes
Livros Unibolso nº79
Editores Associados, Lisboa s/d
A primeira neve, arauto alado do inverno, redemoinhava ao sopro
agreste da nortada quando Gretta saiu do escritório e se encaminhou para casa,
no negrume do fim da tarde.
O céi começara a escurecer pouco depois das quatro horas de um dia
pardacento e, logo após as cinco e meia, parecia que todos os empregados dos
escritórios e lojas se precipitavam através das ruas cobertas de neve para a
promessa de calor e o conchego do lar. No meio de toda aquela gente viam-se
mulheres que sobraçavam embrulhos e pacotes, depois de uma tarde de compras, e
abriam caminho com fúria através das ruas apinhadas – como se a mudança súbita
de estação não fosse desculpa suficiente para chegarem atrasadas aos maridos e
filhos que as esperavam.
Como sempre fizera no ano anterior, Gretta costumava, àquela hora do
dia, correr para a esquina, comprar um jornal da tarde ao ardina e tomar o
autocarro repleto que descia a Chestnut Street e que, vinte minutos depois a
deixaria a meio quarteirão da casa onde morava. Mas desta vez, como se fosse
qualquer coisa que tivesse planeado conscientemente durante todo o dia e não
uma impulsiva mudança de hábito, passou sem hesitar pelo autocarro estacionado
à esquina e continuou a subir a Chestnut Street, fustigada pela neve.
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