terça-feira, 20 de abril de 2021

OLHAR AS CAPAS


Gretta

Erskine Caldwell

Tradução: João Belchior Viegas

Capa: José Antunes

Livros Unibolso nº79

Editores Associados, Lisboa s/d

A primeira neve, arauto alado do inverno, redemoinhava ao sopro agreste da nortada quando Gretta saiu do escritório e se encaminhou para casa, no negrume do fim da tarde.

O céi começara a escurecer pouco depois das quatro horas de um dia pardacento e, logo após as cinco e meia, parecia que todos os empregados dos escritórios e lojas se precipitavam através das ruas cobertas de neve para a promessa de calor e o conchego do lar. No meio de toda aquela gente viam-se mulheres que sobraçavam embrulhos e pacotes, depois de uma tarde de compras, e abriam caminho com fúria através das ruas apinhadas – como se a mudança súbita de estação não fosse desculpa suficiente para chegarem atrasadas aos maridos e filhos que as esperavam.

Como sempre fizera no ano anterior, Gretta costumava, àquela hora do dia, correr para a esquina, comprar um jornal da tarde ao ardina e tomar o autocarro repleto que descia a Chestnut Street e que, vinte minutos depois a deixaria a meio quarteirão da casa onde morava. Mas desta vez, como se fosse qualquer coisa que tivesse planeado conscientemente durante todo o dia e não uma impulsiva mudança de hábito, passou sem hesitar pelo autocarro estacionado à esquina e continuou a subir a Chestnut Street, fustigada pela neve.

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