O homem que nasceu de uma mentira
o homem que cresceu numa sombra de medo
o homem que jantou com o silêncio à mesa
o homem que dormiu entre os braços da angústia
o homem que escreveu o nome na parede do cárcere
o homem que gritou sem que ninguém o ouvisse
o homem que trazia inocência e solidão apenas
o homem que devorou sua própria pureza
o homem que cuspiu desesperado na rosa
o homem que bateu desesperado nos filhos
o homem que beijou desesperado a mulher
o homem que ficou sem cova junto ao muro
o homem que trocou por um ovo um amigo
espera-te ainda
te espera
António Rebordão Navarro em Notícias do Bloqueio nº3, Dezembro 1957
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