Quando é que o 25 de Abril
começou a desenhar-se?
O descontentamento entre os
militares face à guerra colonial, estava em crescendo.
Mas são os próprios militares que determinam
que o Movimento dos Capitães
nasceu, numa reunião alargada, em Évora, no dia 9 de Setembro de 1973.
A 23 de Fevereiro de 1974, o
General António de Spínola, com chancela da Arcádia, publica o livro Portugal
e o Futuro.
Alguns historiadores dizem que
Marcelo Caetano quando acabou a leitura do livro, logo admitiu o que há muito
suspeitava: o regime estava por um fio.
Ainda em Março há-de dizer a um
dos seus colaboradores:
«Cuidado com os capitães, o perigo vem deles, pois não têm ainda idade
suficiente para poderem ser comprados.
Dois dias depois do levantamento
de 16 de Março de 1974, protagonizado pelas tropas do Regimento de Infantaria
5, das Caldas da Rainha, Vergílio Ferreira, no 1º volume do seu Conta-Corrente,
escreve:
«O livro de Spínola alastrou
numa revolta militar frustrada. O livro? Há um clima de inquietação, um cansaço
do provisório em que vivemos. O difícil da questão é que solução alguma coisa
se nos impõe como boa. Há que escolher a menos má. Qual? A África é dos pretos
que “exploramos” há quinhentos anos. Exploramos? Só? Mas como aguentar o embate
da separação? O recurso seria retroactivo: termo-nos preparado para isso. Mas
Salazar, como certos bichos, o que entregou foi pedra. Dizem-me: o Marcelo quer
aguentar a guerra até estarmos preparados. Mas o desgaste não vai mais depressa
que a preparação? Tentamos acumular de um lado, enquanto gastamos do outro Qual
o saldo? Entretanto, ainda se recorre à retórica imperial. “Deus manda
combater, não vencer, diz Marcelo. Mas Deus manda o que lhe mandamos mandar.
Deus de paz, Deus carniceiro, Deus celeste ou terreno. O Deus de Marcelo não é
muito inteligente. Ou estará simplesmente enrascado, sem saber o que fazer.»
O cansaço apoderara-se dos
militares, um enorme cansaço.
Na noite em que Otelo diz à
mulher que, por motivos óbvios, não podem ir ao Coliseu ver a Traviata,
conversam também sobre o que poderá acontecer se as coisas não correrem bem.
Otelo diz que não sabe o que poderá acontecer, mas uma coisa pode garantir; «nunca
mais faço guerra nenhuma no Ultramar.»
Podemos, no entanto admitir que
é o Decreto-Lei nº 353/73 de 13 de Julho, que se pode ler no topo do texto, que
se transforma em pedra de toque desestabilizadora num conflito que estava
latente entre os militares das armas de infantaria, artilharia e cavalaria.
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