segunda-feira, 26 de abril de 2021

O DECRETO 353/73


Quando é que o 25 de Abril começou a desenhar-se?

O descontentamento entre os militares face à guerra colonial, estava em crescendo.

 Mas são os próprios militares que determinam que o Movimento dos Capitães

nasceu, numa reunião alargada,  em Évora, no dia 9 de Setembro de 1973.

A 23 de Fevereiro de 1974, o General António de Spínola, com chancela da Arcádia, publica o livro Portugal e o Futuro.

Alguns historiadores dizem que Marcelo Caetano quando acabou a leitura do livro, logo admitiu o que há muito suspeitava: o regime estava por um fio.

Ainda em Março há-de dizer a um dos seus colaboradores:

«Cuidado com os capitães, o perigo vem deles, pois não têm ainda idade suficiente para poderem ser comprados.

Dois dias depois do levantamento de 16 de Março de 1974, protagonizado pelas tropas do Regimento de Infantaria 5, das Caldas da Rainha, Vergílio Ferreira, no 1º volume do seu Conta-Corrente, escreve:

 «O livro de Spínola alastrou numa revolta militar frustrada. O livro? Há um clima de inquietação, um cansaço do provisório em que vivemos. O difícil da questão é que solução alguma coisa se nos impõe como boa. Há que escolher a menos má. Qual? A África é dos pretos que “exploramos” há quinhentos anos. Exploramos? Só? Mas como aguentar o embate da separação? O recurso seria retroactivo: termo-nos preparado para isso. Mas Salazar, como certos bichos, o que entregou foi pedra. Dizem-me: o Marcelo quer aguentar a guerra até estarmos preparados. Mas o desgaste não vai mais depressa que a preparação? Tentamos acumular de um lado, enquanto gastamos do outro Qual o saldo? Entretanto, ainda se recorre à retórica imperial. “Deus manda combater, não vencer, diz Marcelo. Mas Deus manda o que lhe mandamos mandar. Deus de paz, Deus carniceiro, Deus celeste ou terreno. O Deus de Marcelo não é muito inteligente. Ou estará simplesmente enrascado, sem saber o que fazer.»

O cansaço apoderara-se dos militares, um enorme cansaço.

Na noite em que Otelo diz à mulher que, por motivos óbvios, não podem ir ao Coliseu ver a Traviata, conversam também sobre o que poderá acontecer se as coisas não correrem bem. Otelo diz que não sabe o que poderá acontecer, mas uma coisa pode garantir; «nunca mais faço guerra nenhuma no Ultramar.»

Podemos, no entanto admitir que é o Decreto-Lei nº 353/73 de 13 de Julho, que se pode ler no topo do texto, que se transforma em pedra de toque desestabilizadora num conflito que estava latente entre os militares das armas de infantaria, artilharia e cavalaria.

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