sábado, 17 de abril de 2021

ATÉ LOGO

                                                                       À Isaura

 

Há oito meses dissemos:

- Até logo!

Era uma tarde fria de Novembro

uma tarde como qualquer outra

gente regressando a casa do trabalho

lancheiras malas rugas profundas no rosto.

 

Se houvesse malas de mão

para a saudade a desventura

não havia malas no mundo que chegassem…

 

Era uma tarde fria de Novembro.

Não sei se alguém sorriu

do beijo que trocámos.

- Até logo - disseste.

 

Depois passaram oito meses (1)

os meses mais compridos que tenho encontrado.

Que pensamentos levava comigo?

Sei que disseste «até logo»

E era como se levasse as tuas mãos

Abertas sobre o meu peito.

 

Pensava

que só nas despedidas breves

por horas

se dizia «até logo»

como a alguém que parte

«boa viagem»

ou ao nosso companheiro

«bom trabalho».

 

Mas já passaram oito meses

duzentos e quarenta dias

cinco mil e setecentas horas.

Porque disseste

«Até logo»?

 

Se eu não soubesse

aprenderia que na minha pátria

os namorados dizem «até logo»

e estão meses anos

por vezes não voltam mais.

 

Fecham-nos

atrás de grades de ferro

espancam-nos

matam-nos devagar

e não permitem que apareçam

«logo».

 

Amiga

o ódio que trago armazenado

destas noite de insónia e abandono

dou-o à luta.

Mas temos que sofrer

sofrer deveras.

Até que um dia

Os homens cantarão livres como os pássaros

os namorados beijarão sem pressa

e as palavras «até logo»

quererão dizer simplesmente

«até logo»


(1) Os oito meses transformaram-se em dez anos. Noutros casos, quinze, vinte anos e mais.

António Borges Coelho em Fortaleza

Legenda: Isaura Borges Coelho

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