Áspera é a terra em que vivemos:
Avara nas entregas da alegria,
Pródiga em tristezas. Ásperos
Também os símbolos misérrimos
Que deltam o escasso oxigénio.
Onde a mulher, o beijo da vitória,
o fogo de artifício, a aclamação?
Ás pero é o amor de armas na mão,
a falta de lençóis, a flat de cimento…
Ás pera a noite rude e a miragem
em que sempre se crispam os nossos dentes.
De que tamancos nascerá a vida?
E onde o soro, o sal, o seu tempero?
Ás pera a costura onde se esconde
o piolho propulsor. Na forja ainda
o martelo que epitafe o seu destino,
o peso que o arraste ao seu inferno.
Que fado nos persegue? Que guitarra
acompanha esta dor?
Egito Gonçalves em Os Arquivos do Silêncio
Legenda: pintura de
Jean-François Millet
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