Que me surpreendeu mais nos meus primeiros dias de deambulação pela cidade? A coisa mãos óbvia – os telemóveis. Lá no alto da minha montanha ainda não tínhamos cobertura de rede, e cá em baixo em Athena, onde a têm, raramente via pessoas a andar na rua falando despreocupadamente para dentro dos seus telefones. Lembrei-me de uma Nova Iorque em que as únicas pessoas que subiam a Broadway parecendo que iam a falar sozinhas eram malucas. Que tinha acontecido nestes dez anos para que de repente houvesse tanto para dizer – tanto e tão urgente que não pudesse esperar para ser dito? Para onde quer que fosse, havia sempre alguém que caminhava na minha direcção a falar ao telefone e alguém atrás de mim a falar ao telefone. Dentro dos carros, os condutores iam ao telefone. Quando me metia num táxi, o taxista ia ao telefone. Para quem muitas vezes passava dias seguidos sem falar com ninguém não podia deixar de me perguntar o que seria que antes refreava as pessoas e agora tinha desaparecido a ponto de as levar a falar constantemente para dentro de um telefone em vez de passearem sem terem ninguém a vigiá-las, momentaneamente solitárias, assimilando as ruas através dos seus sentidos animais e pensando as miríades de pensamentos que as actividades de uma cidade inspiram.
Philip Roth em O Fantasma Sai de Cena.
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