terça-feira, 6 de abril de 2021

A AVENTURA ACABOU


4 de Fevereiro de 1969

Na secretária, um ramo de mimosas. Trouxe-as de Fontanelas e ao seu aroma de quando? Estradas da serra, do Alentejo. Abrem a memória mas não a referenciam. Memória do tempo, de caminhos largados à infinitude. Memória de ter sido. Como nunca, aliás, mas só raramente, o «jamais». Para o passado e futuro. Suspendo-me, olhando. Separado. Um certo cansaço de ler ainda. Excepto o já lido. Como é estranho, por exemplo, haver ainda pintores e críticos deles. A arte é de outrora, do meu tempo. Como se fala ainda de arte? A aventura acabou.

Vergílio Ferreira em Conta-Corrente Vol. I

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