segunda-feira, 26 de abril de 2021

HOMENS PRIVADOS DE PAISAGENS


Patrícia Carvalho, em Dezembro de 2018, juntamente com o fotógrafo Adriano Miranda, fez para o jornal Público uma série de reportagens onde entrevistou alguns presos políticos que, em tempo de ditadura, estiveram presos na cadeia de Peniche, que será um Museu dedicado à Resistência em vez de um hotel. 

Experiências de uma riqueza humana, tão simples mas tão dramáticas.

Recolhi dois apontamentos dessas reportagens.

O primeiro é-nos contado por Mário Araújo, hoje, com 83 anos:

«Há coisa difíceis de explicar como o que faz um homem ficar privado da paisagem e alimentar-se apenas de sons. À noite, as traineiras que iam para o mar faziam tac-tac-tac. Era comovente. E a chegada. Era como se estivéssemos lá e fizéssemos aquela viagem de ida e volta também na traineira. Isto para quem ouve esta narração parece uma coisa de somenos, mas eram momentos que nós guardamos ainda hoje. Aquilo era uma coisa que tocava. Criava em nós sensações de liberdade exterior que não tínhamos, não se via nada. O que víamos aqui era o céu e as paredes.

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