O Agente Secreto
Graham Greene
Tradução: Carlos Malta
Capa: Júlio Pedro
Editorial Notícias, Lisboa s/d
O sr. K. tinha perdido toda a combatividade. Saiu do táxi sem boquejar
e desceu as escadas da cave. Na saleta, D. acendeu a luz e pôs a funcionar o
aquecimento a gás. Debruçado sobre o radiador, com um fósforo na mão,
perguntou-se se iria de facto cometer um assassínio. Fosse quem fosse a tal Glover,
não tinha sorte – a casa de uma pessoa tem uma espécie de inocência. Quando,
numa explosão, rui a fachada de uma casa e deixa ver a cama de ferro, as
cadeiras, os maus quadros no seu ambiente, o penico, temos a impressão de uma
violação: entrar clandestinamente numa casa desconhecida é como um acto brutal
de posse sexual. Mas que fazer? Temos de empregar os métodos do inimigo. Lançam-se
as mesmas bombas e bombardeiam-se as mesmas existências. Voltou-se para K. com
súbito furor:
- A culpa do que lhe acontece é sua.
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