O Nariz de Cleópatra
Augusto Abelaira
Capa: Guilherme Casquilho
Livraria Bertrand, Lisboa 1962
Abílio – Não, não gosto de viagens. Mas herdei – ouve, está a ouvir?
Herdei uma fortuna, uma fortuna, passo os dias sem nada que fazer.
Mário – Passa os dias como?
Abílio – Sem nada que fazer.
Mário - Que desculpa! Há sempre que fazer, mesmo para um homem rico.
Basta o amor ao trabalho…
Abílio – Precisamente! Não tenho amor ao trabalho, talvez por falta de
hábito. Compreende… Cresci, passei a adolescência e parte da juventude à espera
da morte do meu padrinho, nunca precisei de ganhar o pão de cada dia…
Mário – O seu padrinho ajudava-o?
Abílio – Era um homem superior! Surpreendi-o muitas vezes a olhar para
mim, envergonhado por ainda não ter morrido.
Mário – Podia fazer-lhe uma doação…
Abílio – Receava que eu me tornasse ingrato, que o tratasse mal na
velhice. Preferiu suicidar-se.
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