sexta-feira, 9 de abril de 2021

OLHAR AS CAPAS


O Nariz de Cleópatra

Augusto Abelaira

Capa: Guilherme Casquilho

Livraria Bertrand, Lisboa 1962

Abílio – Não, não gosto de viagens. Mas herdei – ouve, está a ouvir? Herdei uma fortuna, uma fortuna, passo os dias sem nada que fazer.

Mário – Passa os dias como?

Abílio – Sem nada que fazer.

Mário - Que desculpa! Há sempre que fazer, mesmo para um homem rico. Basta o amor ao trabalho…

Abílio – Precisamente! Não tenho amor ao trabalho, talvez por falta de hábito. Compreende… Cresci, passei a adolescência e parte da juventude à espera da morte do meu padrinho, nunca precisei de ganhar o pão de cada dia…

Mário – O seu padrinho ajudava-o?

Abílio – Era um homem superior! Surpreendi-o muitas vezes a olhar para mim, envergonhado por ainda não ter morrido.

Mário – Podia fazer-lhe uma doação…

Abílio – Receava que eu me tornasse ingrato, que o tratasse mal na velhice. Preferiu suicidar-se.

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