quarta-feira, 28 de abril de 2021

E PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


 Na Frenesi Loja está à venda Who Is Me Poeta das Cinzas, Pier Paolo Pasolini.

Vejam os detalhes e a propósito recordamos um poema de Eugénio de Andrade sobre o assassínio de Pasolini:

 

PIER PAOLO PASOLINI
trad. Ana Isabel Soares
posf. Rosa Maria Martelo
capa e desenhos do pintor João Jacinto
grafismo de Paulo da Costa Domingos

Lisboa, 2021
Barco Bêbado
1.ª edição
218 mm x 135 mm
56 págs.
ilustrado
cartonagem editorial
exemplar novo
20,00 eur (IVA e portes incluídos)

Do posfácio de Rosa Maria Martelo:

«Entre as mais impressionantes imagens das exéquias de Pier Paolo Pasolini, barbaramente assassinado a 2 de Novembro de 1975 em condições nunca inteiramente esclarecidas, estão por certo as que nos mostram o rosto emocionado de Alberto Moravia, ao fazer o elogio do amigo morto. Moravia recorda o homem bom, o homem civil, o romancista, o cineasta, o poeta. A dado momento levanta um pouco mais a voz para exclamar: “perdemos acima de tudo um poeta, e poetas não há muitos no mundo. Nascem três ou quatro em cada século”. E recordará ainda que Pasolini fundara algo de absolutamente novo: uma “poesia civil de esquerda”, num país em que a poesia civil fora sempre de direita.
O destaque dado por Moravia à condição de poeta, quando enumera as várias faces de Pasolini como escritor, cineasta e intelectual, sugere que esta palavra – poeta – é usada em sentido amplo e não se limita a designar o autor de livros de poemas.  Trata-se, em vez disso, de usá-la para descrever a acção de um criador transmedial e intensamente comprometido com a vida em todas as formas de expressão artística que escolheu. Enquanto cineasta, contador de histórias, poeta, argumentista, ensaísta, cronista, polemista, Pasolini fora sempre guiado pelo mesmo encantamento com o mundo físico, com a vida, com o que designou por “realidade”, essa realidade que a seu ver era muito simplesmente “o cinema em estado de natureza”. […]»

pedidos para:
pcd.frenesi@gmail.com
telemóvel: 919 746 089

 

REQUIEM PARA PIER PAOLO PASOLINI

 

 Eu pouco sei de ti mas este crime

torna a morte ainda mais insuportável.

Era novembro, devia fazer frio, mas tu

já nem o ar sentias, o próprio sexo

que sempre fora fonte agora apunhalado.

Um poeta, mesmo solar como tu, na terra

é pouca coisa: uma navalha, o rumor

de abril podem matá-lo – amanhece,

os primeiros autocarros já passaram,

as fábricas abrem os portões, os jornais

anunciam greves, repressão, dois mortos na primeira

página, o sangue apodrece o brilhará

ao sol, se o sol vier, no meio das ervas.

O assassino, esse seguirá dia após dia

a insultar o amargo coração da vida;

no tribunal insinuará que respondera apenas

a uma agressão (moral) com outra agressão,

como se alguém ignorasse, excepto claro

os meretíssimos juízes, que as putas desta espécie

confundem moral com o próprio cu.

O roubo chega e sobra excelentíssimos senhores

como móbil de um crime que os fascistas,

e não só os de Salò, não se importariam de assinar.

Seja qual for a razão, e muitas há,

que o Capital a Igreja e a Polícia

de mãos dadas estão sempre prontos a justificar,

Pier Paolo Pasolini está morto.

A farsa, a nojenta farsa, essa continua.

 

Eugénio de Andrade em Escrita da Terra e Outros Epitáfios

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