Na Frenesi Loja está à venda Who Is Me Poeta das Cinzas, Pier Paolo Pasolini.
Vejam os detalhes e a propósito recordamos um poema de Eugénio de Andrade sobre o assassínio de Pasolini:
PIER PAOLO PASOLINI
trad. Ana Isabel Soares
posf. Rosa Maria Martelo
capa e desenhos do pintor João Jacinto
grafismo de Paulo da Costa Domingos
Lisboa, 2021
Barco Bêbado
1.ª edição
218 mm x 135 mm
56 págs.
ilustrado
cartonagem editorial
exemplar novo
20,00 eur (IVA e portes incluídos)
Do posfácio de Rosa Maria Martelo:
«Entre as mais impressionantes imagens das exéquias de Pier Paolo Pasolini,
barbaramente assassinado a 2 de Novembro de 1975 em condições nunca
inteiramente esclarecidas, estão por certo as que nos mostram o rosto
emocionado de Alberto Moravia, ao fazer o elogio do amigo morto. Moravia
recorda o homem bom, o homem civil, o romancista, o cineasta, o poeta. A dado
momento levanta um pouco mais a voz para exclamar: “perdemos acima de tudo um
poeta, e poetas não há muitos no mundo. Nascem três ou quatro em cada século”.
E recordará ainda que Pasolini fundara algo de absolutamente novo: uma “poesia
civil de esquerda”, num país em que a poesia civil fora sempre de direita.
O destaque dado por Moravia à condição de poeta, quando enumera as várias faces
de Pasolini como escritor, cineasta e intelectual, sugere que esta palavra –
poeta – é usada em sentido amplo e não se limita a designar o autor de livros
de poemas. Trata-se, em vez disso, de usá-la para descrever a acção
de um criador transmedial e intensamente comprometido com a vida em todas as
formas de expressão artística que escolheu. Enquanto cineasta, contador de
histórias, poeta, argumentista, ensaísta, cronista, polemista, Pasolini fora
sempre guiado pelo mesmo encantamento com o mundo físico, com a vida, com o que
designou por “realidade”, essa realidade que a seu ver era muito simplesmente
“o cinema em estado de natureza”. […]»
pedidos para:
pcd.frenesi@gmail.com
telemóvel: 919 746 089
REQUIEM PARA PIER PAOLO PASOLINI
Eu
pouco sei de ti mas este crime
torna a morte
ainda mais insuportável.
Era novembro,
devia fazer frio, mas tu
já nem o ar
sentias, o próprio sexo
que sempre
fora fonte agora apunhalado.
Um poeta,
mesmo solar como tu, na terra
é pouca
coisa: uma navalha, o rumor
de abril
podem matá-lo – amanhece,
os primeiros
autocarros já passaram,
as fábricas
abrem os portões, os jornais
anunciam
greves, repressão, dois mortos na primeira
página, o
sangue apodrece o brilhará
ao sol, se o
sol vier, no meio das ervas.
O assassino,
esse seguirá dia após dia
a insultar o
amargo coração da vida;
no tribunal
insinuará que respondera apenas
a uma
agressão (moral) com outra agressão,
como se
alguém ignorasse, excepto claro
os
meretíssimos juízes, que as putas desta espécie
confundem
moral com o próprio cu.
O roubo chega
e sobra excelentíssimos senhores
como móbil de
um crime que os fascistas,
e não só os
de Salò, não se importariam de assinar.
Seja qual for
a razão, e muitas há,
que o Capital
a Igreja e a Polícia
de mãos dadas
estão sempre prontos a justificar,
Pier Paolo
Pasolini está morto.
A farsa, a
nojenta farsa, essa continua.
Eugénio de Andrade em Escrita da Terra e Outros Epitáfios
Sem comentários:
Enviar um comentário