quarta-feira, 7 de abril de 2021

POEMA EM CONTINUAÇÃO DE UM OUTRO


                                            ao Felisberto Lemos

Não me governam astros. Não me ilude

o mistério de qualquer força oculta.

Se pouco sei das coisas, de mim mesmo

sei o que aprendem os homens solitários,

os exploradores solitários da própria cabeça.

 

Porém sou fraterno – ou mais precisamente

não  sou tão egoísta, nem me ufano tanto,

que esqueça rios e pontes deste sítio.

Porque é verdade, foi um empenho

que  os melhores do meu tempo se buscaram.

 

Como se não bastasse a complicação

de um solitário que se diz fraterno,

quero lembrar que sou pelo amor,

suas virtudes e armas

contra a melancolia.

 

Passou-se tudo isto numa pequena

terra da Europa, entre gentes

onde grassava a poltronaria.

O vento golpeava brutamente as ramadas altas.

Também se lhe chamou o século sem altura.

 

Olho, lá longe, o brilho dos astros,

Castor, Rigel, Deneb, Formalhaut.

Mas não me governam. Eu quero o dia claro

sobre os campos da minha terra,

o pensamento claro devorando-me a cabeça.

 

Fernando Assis Pacheco de Cuidar dos Vivos em A Musa Irregular

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