ao Felisberto
Lemos
Não me governam astros. Não me ilude
o mistério de qualquer força oculta.
Se pouco sei das coisas, de mim mesmo
sei o que aprendem os homens solitários,
os exploradores solitários da própria cabeça.
Porém sou fraterno – ou mais precisamente
não sou tão egoísta, nem me
ufano tanto,
que esqueça rios e pontes deste sítio.
Porque é verdade, foi um empenho
que os melhores do meu tempo se
buscaram.
Como se não bastasse a complicação
de um solitário que se diz fraterno,
quero lembrar que sou pelo amor,
suas virtudes e armas
contra a melancolia.
Passou-se tudo isto numa pequena
terra da Europa, entre gentes
onde grassava a poltronaria.
O vento golpeava brutamente as ramadas altas.
Também se lhe chamou o século sem altura.
Olho, lá longe, o brilho dos astros,
Castor, Rigel, Deneb, Formalhaut.
Mas não me governam. Eu quero o dia claro
sobre os campos da minha terra,
o pensamento claro devorando-me a cabeça.
Fernando Assis Pacheco de Cuidar
dos Vivos em A Musa Irregular
Sem comentários:
Enviar um comentário