Casa Sem Pão
Maria Archer
Empresa Contemporânea de Edições, Lisboa, 1947
As estantes dos livros estão na saleta. O coronel tem as suas estantes
fechadas à chave e traz consigo o molho das chaves. Nas prateleiras alinham as
lombadas coloridas de várias colecções de romances, de Camilo, de Júlio Diniz,
de Herculano, mas há também o Abel Botelho, o Balzac, o Zola. Adriana nunca
entra na saleta sem demorara os olhos ávidos nas lombadas dos romances. Não há
nada no mundo que deseje com mais intensidade que ler esses livros! Lá leu um
romance, «A Morgadinha dos Canaviais». E que maravilha!... as suas leituras,
até então, foram limitadas às «selectas» de português e francês, aos folhetins
do «Notícias» e do «Ilustrado. Todos os dias lê o jornal de ponta a ponta. Mas
é pouco para a sua fome de romanesco. Sabe que o pai tem as suas estantes
fechadas para salvar as filhas dos riscos das más leituras. É o que o pai lhe
diz. Adriana não discute a vontade do pai mas não se convence da sua razão.
3 comentários:
Não conhecia; e parece-me interessante.
O livro só se torna interessante, se o Seve quiser saber como era a mentalidade senhorial dos tempos da ditadura. O retrato que Maria Archer nos oferece é traumático, como traumáticas foram as relações entre homens /mulheres e eu, que nasci em 45, lembro como nos eram impostas as vivências entre rapazes/raparigas e as separações de sexos nas escolas, o existirem brincadeiras para rapazes, brincadeiras para raparigas, situações completamente aberrantes.
Por essas denúncias Maria Archer foi perseguida e teve que se exilar. O livro faz parte da Colecção que o «Público» está a apresentar em edições «fac-símile.
Haverá certamente outros livros a ler, mas é interessante saber como, no passado, os nossos dias aconteceram.
Vou procurá -lo.
Enviar um comentário