Em 1882, o vocábulo "pogrom" foi registado pela primeira vez
em inglês para designar a violência anti-semita no Império Russo. De acordo com
o professor Colin Tatz, entre 1881 e 1920 houve 1.326 pogroms só na Ucrânia,
que mataram 70 mil a 250 mil judeus civis, deixando meio milhão de desalojados.
Essa violência racista, que estava disseminada por toda a Europa
Oriental, gerou nessa época uma onda de migração judaica para o oeste, grande
parte dela para os Estados Unidos da América, que totalizou cerca de 2,5
milhões de pessoas.
Mas no ocidente europeu as perseguições violentas aos judeus também
eram frequentes.
Em França, no fecho do século XIX, houve manifestações com milhares de
pessoas a gritar "morte aos judeus" na sequência do caso Dreyfus.
As agressões contra os judeus eram frequentes em regiões da atual
Alemanha, Áustria e Hungria.
No Reino Unido o anti-semitismo é recorrente e chega os nossos dias. Em
1904, na Irlanda , o boicote de Limerick, que excluia os judeus da vida
económica, fez com que várias famílias judias deixassem a cidade. Durante o
motim de Tredegar, em 1911 no País de Gales, casas e negócios de judeus foram
saqueados e queimados. Na Palestina sob administração britânica, os judeus
foram os alvos no massacre de Hebron em 1929 e do pogrom de 1929 em Safed.
E depois houve a II Guerra Mundial e o Holocausto de Hitler: 6 a 7
milhões de judeus assassinados, com setores populacionais de França e de vários
países do Leste, entretanto ocupados pelos nazis, a ajudarem ao genocídio.
Este horror que descrevo é apenas uma pequena amostra da dimensão da
perseguição euro-cristã-ocidental aos judeus nos últimos 150 anos e ignora
milénios de massacres e perseguições anteriores, como as que aconteceram em
Portugal.
Para acabar de vez com isto o jornalista Theodore Herzl, o inventor do
sionismo político, propusera em 1896, num livro intitulado "O Estado
Judaico", a fundação de uma "república aristocrática," governada
por judeus e que se situasse fora da Europa. Para defender a localização desse
Estado na Palestina, como veio a acontecer a partir de 1948, avançou, entre
outros, com este argumento: essa zona seria "parte da muralha da Europa
contra a Ásia... um posto avançado da cultura contra a barbárie".
O Estado de Israel dos nossos dias está a matar populações civis
palestinianas, incluindo crianças, como, apesar das dificuldades em obter
informação rigorosa, foi amplamente noticiado pelas agências noticiosas
internacionais.
Esta resposta a um ataque com rockets feito pelo Hezbolah palestiniano
é claramente desproporcionada e viola, sem desculpa, os direitos humanos de
milhares de civis (a conta, por baixo, vai em 200 mortos e 60 mil desalojados
em apenas nove dias).
O que está em curso é uma limpeza étnica na Cisjordânia e uma matança
em Gaza. Não se chama pogrom, mas é, ironia trágica, algo bastante parecido.
O poder político na Europa tem na consciência o peso moral da
perseguição milenar aos judeus, que culminou no Holocausto nazi, e de não
conseguir, ainda hoje, eliminar dentro de portas o anti-semitismo. Mas tem
também no raciocínio a lógica calculista de ver Israel como uma ponta de lança
da sua própria expansão civilizacional, "da cultura contra a
barbárie", como escreveu Herzl. Antigamente chamavam a esta arrogância de
"imperialismo", hoje em dia dizem-nos que é "defesa da democracia".
E é em nome dessa visão corrompida e corruptora da "defesa da
democracia" que os Estados Unidos da América lideram a hipocrisia
diplomática que poupa Israel a pressões internacionais consequentes, isto
depois de ter promovido a normalização das relações israelitas com belos exemplos
de "democracia" como são a Arábia Saudita, o Bahrein, os Emirados
Árabes Unidos, para além do Egito.
O apoio árabe aos "antidemocráticos" palestinianos é agora
pueril e a miragem da coexistência pacífica de dois estados na Palestina
desvanece-se em areia.
Quando leio gente supostamente humanista a defender que apesar dos
"excessos" (que eufemismo cruel para uma chacina, caramba!...) há que
escolher um lado entre Israel e palestinianos e esse lado tem de ser o da
democracia e, por isso, é o lado de Israel, tenho de contrapor: se a democracia
serve para legitimar crimes contra a humanidade, para que raio queremos a
democracia?
Pedro Tadeu em Diária de Notícias-on line
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