terça-feira, 4 de maio de 2021

SEMPRE A ÚLTIMA PALAVRA

 

20 de Novembro de 1940

Não há maneira. Por mais boa vontade que tenham todos, uma discussão nesta santa terra portuguesa acaba sempre aos berros e aos insultos. Ninguém é capaz de expor as suas razões sem a convicção de que diz a última palavra. Depois, por desgraça, a este fogo absoluto que queima tudo, junta-se esta nossa tendência apostólica, que, onde sente um náufrago, tem de o salvar.

O resultado é simples: é não poder haver uma colaboração nas ideias, um alargamento de cultura e de gosto, e dar-se uma trágica concentração de tudo na mesquinhez do individual.

Miguel Torga em Diário I Volume

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