30 de Agosto de 1973
Toda a vida vivi no provisório. Admitamos. A nada, assim, ou a poucos me sinto ligado. Ou a ligação existe quando alguém depender de mim. Assim eu não dependo de nada, o que é igual a ser escravo de tudo. Dependesse eu de alguma coisa e isso me ordenaria a vida. Velho hábito este da falta de uma segurança. O «físico». A instável saúde, sempre. Uma segurança. Ideias? Políticas? Mesmo a «glória» - que incrível aberração. Um instante de nuvem no ar. O dia-a-dia entretido no instante do dia-a-dia. E no entanto a arte. E é a única fidelidade. A pequena luta comigo para alcançar o inalcançável. Um livro mais feliz, um trecho, uma frase. Logo depois, a luta recomeça para conseguir outro livro, outra frase, logo a seguir provisórias. Até que a morte corte a ilusão pela raiz e seja ela definitiva.
Vergílio Ferreira em Conta-Corrente Vol. I
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