Trago no bolso do peito
Um lenço de seda
fina,
Dobrado de certo
jeito.
Não sei quem tanto
lhe ensina
Que quanto faz é bem
feito.
Acena nas
despedidas,
Quando a voz já lá
não chega
Por distâncias
desmedidas.
Depois, no bolso aconchega
As saudades
permitidas.
Também o suor
salgado,
Às vezes, enxugo a
medo,
Que o lenço é mal
empregado.
E quando me feri um
dedo,
Com ele o trouxe
ligado.
Nunca mais chegava ao
fim
Se as graças todas
dissesse
Deste meu lenço e de
mim,
Mas uma coisa
acontece
De que não sei porque
sim:
Quando os meus olhos
molhados
Pedem auxílio do
lenço,
São pedidos
escusados.
E é bem por isso que
penso
Que os meus olhos, se
molhados,
Só se enxugam no teu
lenço."
José Saramago em Os Poemas Possíveis
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