sábado, 19 de novembro de 2022

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


 Nos Cadernos de Lanzarote, que tanto foram criticados por dizerem que Saramago se rodeava de vaidades, - ou como o próprio Saramago disse «tratados à pedradada» - encontramos traços importantes para que, para além dos livros, se conheça melhor o autor. Como neste exemplo, datado de 8 de Fevereiro de 1995, em que Saramago fala de uma coisa tão simples mas que lhe deu uma alegria quase transcendente:

«Chegaram exemplares duma nova edição da Viagem a Portugal, brochada e sem ilustrações. Realizou-se enfim o meu sonho de sempre (que Pilar, há uns anos, em conversa com Zeferino reanimou). Ver este livro ao lado dos seus irmãos, igualzinho a eles, sem tratamento especial. Até agora, a Viagem precisava de um lugar diferente na estante, um vão mais alto para poder acomodar a sua estatura de álbum rico. A partir de hoje, os leitores já podem andar por aí com ele debaixo do braço, familiarmente, despreocupados dos cuidados requeridos pelo papel couché e pelo acetinado das imagens. Catorze anos depois da sua primeira publicação, a Viagem é um livro como outro qualquer. Bem-vindo seja, pois, à comunidade dos livros comuns.»

Cadernos de Lanzarote Volume III, página 39.

Viagem a Portugal, publicado em Março de 1981, pelo Círculo de Leitores, é um dos livros mais notáveis publicados, nesse ano, em Portugal, e constitui o grande salto para a consagração do autor.

Este belíssimo livro, profusamente ilustrado, passava a constituir um marco na literatura portuguesa e beneficiou da projecção que o Circulo de Leitores tinha por todo o país. Note-se, que a 1ª edição teve uma tiragem de 30.000 exemplares.

Um Portugal visto com outros olhos, longe do guia turístico, longe dos livros de viagens, um Portugal que muitos desconheciam, também muitos ainda desconhecem, escrito com um brilho, uma força e um sentir só possíveis a quem verdadeiramente ama o seu país. Um olhar terno, humano, vigilante.

Ou como José Saramago descreve tão bem:            

«Esta viagem a Portugal é uma história. História de um viajante no interior da viagem que fez, história de uma viagem que em si transportou um viajante, história de viagem e viajantes reunidos em uma procurada fusão daquele que vê e daquilo que é visto, encontro nem sempre pacífico de subjectividades e objectividades. Logo: choque e adequação, reconhecimento e descoberta, confirmação e surpresa. O viajante viajou no seu país. Isto significa que viajou por dentro de si mesmo, pela cultura que o formou e está formando, significa que foi durante muitas semanas, um espelho reflector das imagens exteriores, uma vidraça transparente que luzes e sombras atravessaram, uma

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