terça-feira, 15 de novembro de 2022

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


 O amanhã de há cem anos, uma aldeia ribatejana verá nascer um português que virá a ser Prémio Nobel da Literatura.

Anabela Mota Ribeiro, aquando da publicação de As Pequenas Memórias, entrevistou José Saramago.

Passemos os olhos por parte dessa conversa:

«Houve dois momentos importantes na minha vida que decidiram tudo. Um deles, não muito consciente, foi o facto de ter deixado de escrever depois de ter escrito esses livros (Terra do Pecado e Clarabóia). Durante 20 anos, quase não escrevi. Só voltei a publicar em 1966.

O segundo momento foi em 1975, quando depois do 25 de Novembro, fiquei sem trabalho e sem esperança de o conseguir. «E agora, o que é que eu faço? Ternho aí alguns livros, mas não tenho uma obra, é agora ou nunca.»

Durante cinco ou seis anos, talvez sete, vivi de traduções, ao mesmo tempo que ia escrevendo o Manual de Pintura e Caligrafia, e o Objecto Quase. A sorte foi que o Círculo de Leitores me tivesse convidado para escrever Uma Viagem a Portugal, em 1979-1980. Foi bem pago, deu-me uma estabilidade económica que me permitiu afrontar durante um ou dois anos o trabalho da escrita, sem estar a pensar que tinha que ganhar dinheiro – ele já estava ganho.

O Eduardo Lourenço tem uma explicação mais simples para tudo isto: «A tua vida é um milagre.» E ficámos por ali, não havia mais nada a dizer.

Como é que vou ser recordado? Se calhar vou pedir o impossível: eu considero-me boa pessoa. Então, que nem a pessoa que sou apague o escritor que também sou, e que nem o escritor que sou apague a pessoa que sou. Se calhar é muita sorte alguma destas ficar. Que fiquem as duas, é capaz de ser impossível.»

Legenda: Contracapa de Correspondência entre José Saramago e José Rodrigues Migueis. É um trecho de uma carta de Saramago para Migueis em que Saramago lhe conta que está para ser substituído, como director editorial, por Natália Correia, uma sacanicezinha levado a cabo pelos proprietários da Estúdios Cor.

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