terça-feira, 22 de novembro de 2022

INVENTÁRIO

De que sedas se fizeram os teus dedos,

De que marfim as tuas coxas lisas,

De que montanha chegou ao teu andar

A graça de camurça com que pisas

De que amoras maduras se espremeu

O gosto acidulado do teu seio,

De que Índia o bambu da tua cinta,

O oiro dos teus olhos donde veio

A que balanço de onda vais buscar

A linha sinuosa dos quadris

Onde nasce a frescura dessa fonte

Que sai da tua boca quando ris

De que bosques marinhos se soltou

A rosa de coral das tuas portas

Que perfume te anuncia quando vens

Cercar-me de desejo a horas mortas

 

José Saramago em Os Poemas Possíveis

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