No sábado sublinhámos aqui a alegria de José Saramago sentiu quando olhou a publicação de Viagem a Portugal publicado como um livro do tamanho daqueles que constituem a sua Obra Completa.
Voltamos hoje a essa viagem.
Não é história, não é guia turístico, é um manancial
de palavras e sítios que fogem aos chavões dos guias turísticos.
Um livro notável e que Mário Castrim (Junho de 1981) disse
constituir um marco na literatura portuguesa: «Raramente a arte de escrever
voou tão alto».
Há pormenores deliciosos, como este, (página 204), passado no Redondo:
«Desistiu de ir às
antas da serra de Ossa, não por causa das ursas, que se acabaram, mas por causa
do tempo, que se acabara também. Comeu, no entanto, as mais saborosas,
suculentas e sumptuosas costeletas de porco que, em sua vida inteira, ao dente
lhe chegaram. Dê Redondo isto a quem lá vá, e não lhe faltarão amizades.»
Coisas tão simples
como umas costeletas de porco, comidas no Redondo.
Em Portugal sempre se
comeu bem mas este tempo era um tempo em que havia tabernas, casas e casinhas,
sem «chefs» a armar ao pingarelho.
Mas que já que
estamos com o livro nas mãos fiquemos com o delicioso final:
«Este é o país do
regresso. A viagem acabou.
Não é verdade. A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: «Não há mais que ver», sabia que não era assim. O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já».
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