quarta-feira, 2 de novembro de 2022

SALMO 136

Nem por abandonadas se calavam
As harpas dos salgueiros penduradas.
Se os dedos dos Hebreus as não tocavam,
O vento de Sião, nas cordas tensas,
A música da lembrança repetia.
Mas nesta Babilónia em que vivemos,
Na memória Sião e no futuro,
Até o vento calou a melodia.
Tão rasos consentimos nos pusessem,
Mais do que os corpos, as almas e as vontades,
Que nem sentimos já o ferro duro,
Se do que fomos nos deixam as vaidades.

Têm os povos os fados que merecem.

 José Saramago em Os Poemas Possíveis

Sem comentários: