A democracia é a casa do povo que lá não
mora
A democracia é a casa do povo que lá não mora.
A revolução é a chave partida na fechadura,
a rodar em falso numa réstia de cravos.
Revolução é lembrança da mãe primaveril,
antes da reforma,
no tempo em que cantava um canto inicial,
pétala arterial
no caule da madrugada.
Democracia é palavra que descola
quando o povo desencosta,
escassa na empresa e na escola,
esquecido o torno e a jorna,
o calabouço e a coça – a servidão do cereal;
esquecido o cântaro e o dedal
e o porão colonial.
Revolução é praça que não torna.
A democracia é a casa do povo que lá não mora
mas desarmado a guarda
depois que a desarmou – e agora começou a desamar.
A democracia é a casa do povo que lá não mora.
Palácio sem umbral,
ratado pela desventura,
reboco onde pica o demagogo
e vocifera o impostor.
A democracia é a casa do povo que demora.
A revolução é a chave partida na fechadura
a rodar em falso uma volta inteira
na poeira matinal.
Rui Lage
Nota do Editor: Este poema de Rui Lage foi tirado do Público de 25 de
Maio de 2024.
Poesia Pública é uma iniciativa do Museu e Bibliotecas do Porto comissariada por Jorge Sobrado e José A. Bragança de Miranda. Ao longo de 50 dias publicaremos 50 poemas de 50 autores sobre revolução.
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