«Segundo Donald
Trump, “foi Deus que impediu que o impensável acontecesse”, no atentado de que
foi alvo. Ou seja, foi o Criador que evitou que a bala do atirador trespassasse
Trump, o que seria impensável, fazendo com que fosse antes atingir um antigo
bombeiro, cuja morte é bastante mais pensável. Deus, nos intervalos de governar
o universo, acompanha as eleições americanas, provavelmente através da Fox
News, e não deixou que o candidato americano fosse abatido a tiro. Em 1914,
Deus não interferiu no homicídio do arquiduque, em Sarajevo, e em 1963 não
objectou a que Kennedy fosse assassinado, em Dallas.
Mas, desta vez, o
Senhor resolveu salvar a vida de um candidato presidencial. No entanto, Deus
fez muito mais do que isso: montou a maior operação de marketing político da
História. Luís Paixão Martins, que coordenou várias campanhas vencedoras, nunca
concebeu um plano tão bom como este — e dizem-me que Paixão Martins é bastante
mais caro do que Deus. Ao permitir que a bala raspasse na orelha de Trump, o
Senhor forneceu-lhe o máximo de martírio com o mínimo de dano. Trump pode dizer
que levou um tiro, que sobreviveu a uma tentativa de homicídio, que derramou
sangue. O preço a pagar por isso foi: uma feridinha na orelha. Eu já tive
lesões mais graves a jogar à bola. Mas Deus quis fazer de Trump uma vítima sem
lhe infligir sofrimento. Tem sido um procedimento habitual do Senhor. Toda a
história da vida de Donald Trump tem sido exactamente assim: obter o maior
benefício despendendo o menor esforço. Trump começou com uns milhões de dólares
oferecidos pelo pai, e quase não paga impostos sobre os rendimentos que tem. Os
escândalos em que se envolve não o beliscam, e nem sequer as condenações em
tribunal o afectam. Em princípio, Deus tem tido um papel crucial em todas essas
peripécias. É como se o Senhor estivesse a protegê-lo por ter um plano para
ele. Fico mais descansado. Talvez isso signifique que a eleição de Donald Trump
seja, no entender de Deus, a maneira mais eficaz de evitar uma guerra nuclear.
Ou então faz tudo parte de uma estratégia para cumprir o que vem escrito no
Livro do Apocalipse. Seja como for, Deus parece saber o que está a fazer. Haja
alguém.»
Ricardo Araújo no Expresso.
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