sábado, 20 de julho de 2024

CRONICANDO POR AÍ

«Segundo Donald Trump, “foi Deus que impediu que o impensável acontecesse”, no atentado de que foi alvo. Ou seja, foi o Criador que evitou que a bala do atirador trespassasse Trump, o que seria impensável, fazendo com que fosse antes atingir um antigo bombeiro, cuja morte é bastante mais pensável. Deus, nos intervalos de governar o universo, acompanha as eleições americanas, provavelmente através da Fox News, e não deixou que o candidato americano fosse abatido a tiro. Em 1914, Deus não interferiu no homicídio do arquiduque, em Sarajevo, e em 1963 não objectou a que Kennedy fosse assassinado, em Dallas.

 Mas, desta vez, o Senhor resolveu salvar a vida de um candidato presidencial. No entanto, Deus fez muito mais do que isso: montou a maior operação de marketing político da História. Luís Paixão Martins, que coordenou várias campanhas vencedoras, nunca concebeu um plano tão bom como este — e dizem-me que Paixão Martins é bastante mais caro do que Deus. Ao permitir que a bala raspasse na orelha de Trump, o Senhor forneceu-lhe o máximo de martírio com o mínimo de dano. Trump pode dizer que levou um tiro, que sobreviveu a uma tentativa de homicídio, que derramou sangue. O preço a pagar por isso foi: uma feridinha na orelha. Eu já tive lesões mais graves a jogar à bola. Mas Deus quis fazer de Trump uma vítima sem lhe infligir sofrimento. Tem sido um procedimento habitual do Senhor. Toda a história da vida de Donald Trump tem sido exactamente assim: obter o maior benefício despendendo o menor esforço. Trump começou com uns milhões de dólares oferecidos pelo pai, e quase não paga impostos sobre os rendimentos que tem. Os escândalos em que se envolve não o beliscam, e nem sequer as condenações em tribunal o afectam. Em princípio, Deus tem tido um papel crucial em todas essas peripécias. É como se o Senhor estivesse a protegê-lo por ter um plano para ele. Fico mais descansado. Talvez isso signifique que a eleição de Donald Trump seja, no entender de Deus, a maneira mais eficaz de evitar uma guerra nuclear. Ou então faz tudo parte de uma estratégia para cumprir o que vem escrito no Livro do Apocalipse. Seja como for, Deus parece saber o que está a fazer. Haja alguém.»

Ricardo Araújo no Expresso.

Sem comentários: