quinta-feira, 18 de julho de 2024

MINHA ALDEIA

Minha aldeia é todo o mundo.

Todo o mundo me pertence.

Aqui me encontro e confundo

com gente de todo o mundo

que a todo o mundo pertence.

 

Bate o sol na minha aldeia

com várias inclinações.

Ângulo novo, nova ideia;

outros graus, outras razões.

Que os homens da minha aldeia

são centenas de milhões.

 

Os homens da minha aldeia

divergem por natureza.

O mesmo sonho os separa,

a mesma fria certeza

os afasta e desampara,

rumorejante seara

onde se odeia em beleza.

 

Os homens da minha aldeia

formigam raivosamente

com os pés colados ao chão.

Nessa prisão permanente

cada qual é seu irmão.

Valências de fora e dentro

ligam tudo ao mesmo centro

numa inquebrável cadeia.

Longas raízes que emergem,

todos os homens convergem

no centro da minha aldeia.

 

António Gedeão de Teatro do Mundo em Poesias Completas

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