domingo, 28 de julho de 2024

OS ITINEÁRIOS DO EDUARDO


Uma guerra terrível em África.

Milhares de mortos, milhares de feridos, milhares de estropiados, milhares que ainda acordam a meio da noite num pesadelo de tiros e granadas e minas a rebentarem…«uma guerra que nos fere e dói que mais não seja por ser guerra em vão».

O poeta Eduardo Guerra Carneiro andou por Mafra, a aprender ninguém sabe o quê, um enorme desespero sempre, uma angústia enorme.

Em Mafra teve como companheiros de companhia, ou de pelotão, o Adriano Correia de Oliveira, o Nuno Guimarães, o José Cid.

Começamos o percurso do Eduardo de hoje no seu 3º livro Algumas Palavras (1969) :

 

Em certos meses mafras se povoam

de soldados novos São meses sol

de guerra que aqui dentro vai roendo

as mãos e lá fora vai matando

homens São meses morse

denso que já sabe ao som

do erro Ao sol da morte


E desaguamos, tinha que ser!, no livrinho de capa vermelha:

«Lá te foste embora, António. De ideias ao ombro; todo vestido de bombazina. Estou a ver-te na Praça da Batalha, já lá vão uns anos. Não me dossete nada mas parece que o adivinhava no castanho da bombazina, na pressa em ires embora, nas poucas palavras que disseste. De que cor são os lagos da Suiça?»


E ainda:


«Vai a correr, de Mauser nas mãos, por longos corredores, escuros e baptizados. Cerradas filas o aguardam num terreiro cercado. O verde da paisagem está sujo por centenas de homens armados, vestidos de verde».

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