«No dia em que escrevo, Portugal prepara-se para parar às 20 horas. Como há sempre meia dúzia de resistentes, eu vou estar a inaugurar uma exposição e a falar sobre liberdade e o 25 de Abril, coisas já gastas e sem novidade, no Teatro de Almada, uma hora antes de o país parar. Não sei se vai aparecer alguma gente, e qual vai ser o desfecho do destino da Pátria, mais uma vez em luta contra os franceses, desta vez sob a sombra de Madame Marine Le Pen. Quando me lerem já sabem tudo, mas na verdade a parte que vão saber é bastante irrelevante, a não ser como espelho dos maus costumes nacionais. Em 15 dias, se perdermos, está tudo esquecido e nesses 15 dias haverá um surto de logomaquia infeliz, acusatória, vingativa, depressiva e deprimida, porque mais uma vez a Pátria na versão Ronaldo não esteve à altura dos seus Maiores. Se ganharmos, rufarão mais tambores do que portugueses e a bandeira, que só serve para estas coisas, estará por todo o lado, nas casas, nas lapelas, pintada na cara de uns e umas, que estarão aos saltos por essa Europa fora. Ridículo visto de cima, não é? Mas é este o nosso único sobressalto patriótico, o dos nossos Menores. Os patriotas do futebol querem lá saber.»
José Pacheco Pereira, hoje, no Público.
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