domingo, 28 de julho de 2024

AINDA O VAI E VEM DO EÇA


Bárbara Reis, no Público de 2 de Julho diz-nos que: pela quarta vez em nove meses, a justiça rejeitou os pedidos de alguns dos bisnetos de Eça de Queiroz que estão contra a trasladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional e não deu razão a nenhum dos seus argumentos.

Para além da maioria dos bisnetos — 13 dos 22 são a favor e três não se pronunciaram —, a autarquia de Baião, a FEQ e a AR são a favor da ida de Eça para o Panteão.

Os três juízes do Supremo Tribunal Administrativo de Lisboa decidiram que os bisnetos descontentes “não têm razão” e que a sua argumentação é “inaplicável”, “impensável”, “não prevista”, “inútil” e “não consubstanciada”.

Provavelmente o caso terá outras vias porque, quem não está de acordo,  podem ainda  recorrer para o pleno da secção de contencioso e administrativo do Supremo, e podem recorrer para o Tribunal Constitucional.

Quando morreu em Paris, em 1900, Eça foi trasladado para Portugal, teve um funeral com honras de Estado e foi sepultado no jazigo da família da mulher, Emília Resende, no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa. Noventa anos depois, por iniciativa da família, o corpo foi trasladado para o Cemitério de Santa Cruz do Douro, no concelho de Baião, onde está desde 1989.


Resta-nos relembrar Eça em A Cidade e as Serras:

«Uma formidável moça, de enormes peitos que lhe tremiam dentro das ramagens do lenço cruzado, ainda suada e esbraseada do calor da lareira, entrou esmagando o soalho, com uma terrina a fumegar. E o Melchior, que seguia erguendo a infusa do vinho, esperava que Suas Incelências lhe perdoassem porque faltara tempo para o caldinho apurar... Jacinto ocupou a sede ancestral- e durante momentos ( de esgazeada ansiedade para o caseiro excelente) esfregou energicamente, com a ponta da toalha, o garfo negro, a fusca colher de estanho. Depois, desconfiado, provou o caldo, que era de galinha e rescendia. Provou- e levantou para mim, seu camarada de misérias, uns olhos que brilharam, surpreendidos. Tornou a sorver uma colherada mais cheia, mais considerada. E sorriu, com espanto: - Está bom!

Estava preciso: tinha fígado e tinha moela: o seu perfume enternecia: três vezes, fervorosamente, ataquei aquele caldo.»

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