Bárbara Reis,
no Público de 2 de Julho diz-nos que: pela quarta vez em nove meses, a justiça
rejeitou os pedidos de alguns dos bisnetos de Eça de Queiroz que estão contra a
trasladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional e não deu
razão a nenhum dos seus argumentos.
Para além da maioria dos bisnetos — 13 dos 22 são a favor e três não se pronunciaram —, a autarquia de Baião, a FEQ e a AR são a favor da ida de Eça para o Panteão.
Os três
juízes do Supremo Tribunal Administrativo de Lisboa decidiram que os bisnetos
descontentes “não têm razão” e que a sua argumentação é “inaplicável”,
“impensável”, “não prevista”, “inútil” e “não consubstanciada”.
Provavelmente o caso terá outras vias porque, quem não está de acordo, podem ainda recorrer para o pleno da
secção de contencioso e administrativo do Supremo, e podem recorrer para o
Tribunal Constitucional.
Quando morreu em Paris, em 1900, Eça foi trasladado para Portugal, teve um
funeral com honras de Estado e foi sepultado no jazigo da família da mulher,
Emília Resende, no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa. Noventa anos
depois, por iniciativa da família, o corpo foi trasladado para o Cemitério de
Santa Cruz do Douro, no concelho de Baião, onde está desde 1989.
Resta-nos relembrar Eça em A Cidade e as Serras:
«Uma formidável moça, de enormes peitos
que lhe tremiam dentro das ramagens do lenço cruzado, ainda suada e esbraseada
do calor da lareira, entrou esmagando o soalho, com uma terrina a fumegar. E o
Melchior, que seguia erguendo a infusa do vinho, esperava que Suas Incelências
lhe perdoassem porque faltara tempo para o caldinho apurar... Jacinto ocupou a
sede ancestral- e durante momentos ( de esgazeada ansiedade para o caseiro
excelente) esfregou energicamente, com a ponta da toalha, o garfo negro, a fusca
colher de estanho. Depois, desconfiado, provou o caldo, que era de galinha e
rescendia. Provou- e levantou para mim, seu camarada de misérias, uns olhos que
brilharam, surpreendidos. Tornou a sorver uma colherada mais cheia, mais
considerada. E sorriu, com espanto: - Está bom!
Estava preciso: tinha fígado e tinha
moela: o seu perfume enternecia: três vezes, fervorosamente, ataquei aquele
caldo.»
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