sábado, 20 de julho de 2024

OS ITINERÁRIOS DO EDUARDO


«As motos roncam no circuito

de Vila Real e lá estou eu, pendurado

no muro das traseiras, a espreitar a Norton

que vem à cabeça, curvando, espectacular,

na rampa de São Pedro. O cheiro a gasolina

embebeda a catraiada. É quase tão bom

como o incenso do mês de Maria. Baba-se

o tontinho da cidade e alguns padres

deitam foguetes e apanham as canas.

As motos cortaram já a meta, quando chega

a notícia de um desastre na Timpeira.

Mas a festa prossegue, com a feira

dos pucarinhos, e o barro negro de Bisalhães

racha-se na cabeça dos feirantes.»

 

A alegria que Eduardo Guerra Carneiro nos transmite de uma Vila Real da sua adolescência, neste poema tirado de Contra a Corrente.

Um itinerário diferente daquela figura amável com memórias, sonhos, encontros, desencontros, as marcas incisivas do prazer – e do conhecimento da dor», como tão bem o retratou Vitor Silva Tavares.

Um itinerário de imprevisto, diga-se. 

Mas que imprevisto?


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