No Corpo Visível do Mário Cesariny, eslão lá estes versos: o moço que há uma hora não fazia senão fumar cigarros, o mesmo que julgou ter a noite perdida, que maçada, sempre encontrou o seu par, lá vão eles já no extremo do outro lado da praça
e também há aquele outro poema
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
O Manuel António Pina, na morte do poeta (26 de Novembro do ano de 2006), disse que o Cesariny tinha vivido como quem aproveita uma oportunidade única e sabíamos do seu fascínio por marinheiros e várias vezes foi preso pela polícia de costumes o que, segundo Luiz Pacheco deitaram-no muito abaixo, ele tinha de ir todos os meses ao Torel, à apresentação, uma imposição muito chata, se faltava prendiam-no.
2 comentários:
Fala-se pouco disso, mas deve ter sido uma das maiores vitimas de discriminação sexual no nosso país...
Mas resistiu sempre, sem ter de inventar um casamento ou de esconder-se no armário, Sammy.
Penso que sim, Luís.
Aliás a nossa cultura está repleta de casos como o Cesariny, uns conhecidos, outros nem por isso. Perdido, lá muito para trás no tempo, tempos tão terríveis..., está o caso do António Botto e só a coragem de José Carlos Ary dos Santos, levou o Partido, «chamando as coisas pelos nomes que elas são» a fechar os olhos a algo para o qual nunca foi NADA claro, apenas fecharam os olhos...
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