18 de Julho
de 1968
Envergando a sua fina camisa de boa
seda, bem engravatado e sem casaco, o N. – recordo-o agora – mostrou-me um
cartão da Maria Judite de Carvalho em que esta guitarra cigana tão dolente e
fina, penetrante e nostálgica, não se sabe de quê, recusou dar uma entrevista
ao suplemento do jornal, a pretexto de que é antiliterária. Com a sua
incapacidade de entender o que não meta cifrões, o N. (que a admira, está
claro, pois as incomparáveis crónicas dela são pólen adejante que entra pela
mais ténue frincha) comentou:
-Veja lá, não tem consciência do valor
que tem…
Disse-lhe que pelo contrário!
A autenticidade dessa mulher é realmente
espantosa, se tivermos em conta, por demais, que não sofreu qualquer influência
visível do Urbano, o que é bem difícil, se levarmos em conta a irradiação que o
caracteriza. Apetece ajoelhar diante dela, para lhe beijar humildemente os pés.
Mário Sacramento em Diário.
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