sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


 

Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Nas conversas que José Saramago manteve com Carlos Reis, fala de um seu livro que nunca foi publicado e que se seguiu à “Terra do Pecado”:

 «Escrevi esse livro que se chama A Clarabóia e é um romance. É a história de um prédio com seis inquilinos sucessivamente envolvidos num enredo. Acho que o livro não está mal construído. Enfim, é um livro também ingénuo, mas que, tanto quanto me recordo, tem coisas que já têm que ver com o meu modo de ser.»

José Saramago acabou de escrever Claraboia no dia 5 de Janeiro de 1953.

Era o seu segundo romance e entregou-o a um amigo que o levou à Notícias Editora que não lhe dedicou qualquer tipo de atenção.

Encafuado nas prateleiras de um qualquer armazém, foi descoberto já Saramago atingira a relevância que se reconhece.

Mostraram interesse em publicá-lo. Saramago recusou e recuperou o manuscrito mas, enquanto fosse vivo, não quis que o livro  fosse publicado.

A sua publicação ocorreu em Setembro de 2011.

 Alguns pedaços vadios devidamente sublinhados:

Aprendi a ver mais longe que a sola destes sapatos, aprendi que, por detrás desta vida desgraçada que os homens levam, há um grande ideal, uma grande esperança. Aprendi que a vida de cada um de nós deve ser orientada por essa esperança e por esse ideal. E que se há gente que não sente assim, é porque morreu antes de nascer.»

 «Aquela aguda sensação que faz temer a loucura e desejá-la.»

 «Um silêncio pesado, como se a morte tivesse vindo sentar- se entre os dois homens.»

«No meu entender, as mulheres bonitas não querem amar, querem ser amadas.»

«Talvez agora o seu amor fosse maior, porque já não se alimentava de perfeições reais ou imaginárias.»

«Ter não é possuir. Pode ter-se aquilo que se não deseja. A posse é o ter e o desfrutar o que se tem.»

«O cigarro fazia parte de uma complicada rede de atitudes, palavras e gestos, todos com o mesmo objetivo: impressionar.»

«Os três estavam contentes, tinham aquele sorriso de olhos que vale por todos os sorrisos de dentes e lábios.«

«Ouviu-se um suspiro: Rosália atingira o êxtase, o intermédio lírico terminara. Das altas regiões da adoração, desceu ao prosaísmo terrestre.»

«Quando Maria Cláudia entrou... as sombras da cozinha saíram.»

«O que eu queria é que a sua preocupação de fugir a prisões não o levasse a ficar prisioneiro de si mesmo, do seu cepticismo.»

«- Vivemos entre os homens, ajudemos os homens.

-E que faz o senhor para isso?

- Conserto-lhes os sapatos, já que nada mais posso fazer agora»

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