Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a Biblioteca da Casa.
Mais um livro que aborda a obra e a personalidade de José Saramago.
Maria da Conceição Madruga chamou ao seu
livro: A Paixão Segundo Saramago.
É mesmo um livro de paixão. A Paixão do Verbo e o Verbo da Paixão.
Mário David Soares, à guisa de prefácio,
escreve:
«Para
quem gostar de Saramago, para quem ainda não compreende Saramago, para quem tem
que analisar Saramago este é um livro fundamental para aprofundar gostos,
ultrapassar incompreensões e ajudar a análises.»
É um livro apaixonado e as paixões não
se explicam.
O percurso de leitura de Maria da
Conceição Madruga inicia-se com o Manual
de Pintura e Caligrafia e termina com a História
do Cerco de Lisboa.
Seguindo estes livros, sublinhei os
sublinhados que a autora fez dos livros de Saramago.
Importa pouco, ou nada, se são coincidentes.
Entremos
no primeiro capítulo do livro: O Enigma da Leitura:
«Os
livros de Saramago abertos sobre a mesa são uma rememoração, um chamamento.
Convidam-nos à viagem, em busca do fio que nos conduza no labirinto do
conhecimento de nós, do mundo, do Conhecimento. Viagem inaugural, redentora e
de retorno à infância, na acepção de Blanchot:
“Continuamos a ler desde há milénios, como se mais não fizéssemos do que
começar a aprender a ler”.
Saramago
revela-se-nos, desde logo, o contador da História e de histórias, que nos
fascinam e nos apaixonam. É a grande Voz e o grande Olho, dizendo o que ouviu e
viu, lá em nenhum lugar. Nem em nenhum tempo, porque como ele próprio refere, “tudo
provavelmente são ficções” (Citação de A Jangada de Pedra, pág. 138 (2ª edição,
Nota do Editor).
«Retemo-nos
nas suas páginas, tentando aliar a paixão da deriva à exigência do olhar.
Assumimos uma leitura de paixão e de desespero provocada pelo próprio texto,
onde um narrador irónico e mordaz se compraz em demonstrar-nos a
(im)possibilidade de interpretar.»
Conceição Madruga neste capítulo, faz
uma citação de O Ano da Morte de Ricardo
Reis:
«As
frases, quando ditas, são como portas, ficam abertas, quase sempre entramos,
mas às vezes deixamo-nos estar do lado de fora, à espera de que outra porta se
abra, de que outra frase de diga.» (Citação de O
Ano da Morte de Ricardo Reis, pág. 183, 1ª edição, Nota do Editor.)
Esta frase está sublinhada pelo editor,
pertence a um diálogo de Marcenda com Ricardo Reis. Fica aqui o sublinhado do editor:
«Não
deve perder a esperança, Suponho que essa já está perdida, qualquer dia sou
capaz de ir a Fátima para ver se a fé ainda pode salvar-me. Tem fé, Sou
católica, Praticante, sim, vou à missa, confesso-me, comungo, faço tudo o que
os católicos fazem. Não parece muito convicta, É jeito meu, não pôr muita
expressão no que digo. A isto não respondeu Ricardo Reis, as frases, quando
ditas, são como portas, ficam abertas, quase sempre entramos, mas às vezes
deixamo-nos estar do lado de fora, à espera de que outra porta se abra, de que
outra frase de diga.»
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