segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

ESTA VIDA ARREPIADA...

12 de Setembro de 1968

Levanto-me – para quê?, é a amargura que todos os dias me invade. Leio, mal ou bem, até às tantas, sofro sonhos desabridos em que desponta ao acordar, uma ou outra ideia, que se esvai, por não a conduzir até à secretária. Inicio a rotina com sarro na boca e, nos intervalos dela, garatujo que porei um dia, aqui, o que agora não faço. Faço projectos para a hora a que regressar a casa, mas, chegado lá, o ciclo fecha-se, não há forças que o rompam.

Reduzo-me, assim, à paisagem interior que is livros visitam. Será isto viver? Valerá a pena teimar? Não é nem vale, mas assim me «cumpro», não sei por que teima abjecta. Uma protérvia, esta vida arrepiada!

Mário Sacramento em Diário

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